B) PLERO -TRANSBORDAMENTO DO ESPÍRITO
Agora vamos examinar o outro verbo grego: Plero. Podemos encontrá-lo em várias passagens do Novo Testamento, e é freqüentemente traduzido por "encher". Entretanto, sua ênfase é diferente; o ser cheio com Plero é de "dentro para fora", indicando um "estado", e não apenas uma experiência "momentânea", como vimos no Plesso.
1. O SENHOR JESUS
"Jesus, pois, cheio (Plero) do Espírito Santo, votou do Jordão; e era levado pelo Espírito ao deserto" (Luc.4:1).
O Senhor Jesus é nosso Exemplo supremo em todos os aspectos. Lucas O apresenta como sendo "cheio do Espírito", e não como tendo ficado cheio do Espírito. Isto é, para o Senhor Jesus, o ser cheio do Espírito era um "estado" e não uma experiência. Ele era, constantemente, cheio do Espírito.
O verbo usado nesta passagem é Plero e não Plesso, e já vimos que ele indica algo "interior" e não apenas "exterior", daí o chamarmos de "transbordamento".
Observemos que, a conexão entre ser cheio e determinada tarefa já não é vista. Isto é, o Senhor Jesus era cheio do Espírito houvesse ou não uma obra a ser rea1izada. O resultado dEle ser cheio do Espírito, foi ser guiado pelo Espírito. Já vimos no estudo número tres (A Estatura de Filhos), que esta é uma característica dos "filhos maduros". O Plero não está tão relacionado com "obras"; mas sim com a "vida". Observe a reação do Senhor para com a tríplice tentação do inimigo: Ele está com fome, mas a Palavra (Rhema), que procede da boca do Pai O sustenta. Os reinos do mundo Lhe são ofereci- dos, mas sua resposta é: "Ao Senhor teu Deus adorarás" (v. 8). Quando o diabo lhe sugere testar a Deus, Ele responde: "Não tentarás ao Senhor teu Deus" (v. 12).
Determinadas situações que enfrentamos na vida cristã, não podem ser solucionadas apenas com "poder". É preciso "vida interior"; a vida de Cristo deve estar crescida em nós. Devemos ter vida, e vida em abundância. É nesse sentido que Lucas declarou ser Jesus "cheio do Espírito Santo".
2. OS SETE VARÕES
"Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de boa reputação, cheios (Plero) do Espírito Santo e de sabedoria..." (At. 6:3).
Quando o número dos discípulos começou a crescer na igreja em Jerusalém, houve murmuração, porque as viúvas dos helenistas estavam sendo esquecidas na distribuição diária. Os apóstolos reuniram os discípulos, e sugeriram a escolha de sete irmãos. As condições eram três: boa reputação, cheios (Plero) do Espírito Santo, e de sabedoria.
Notemos, novamente, que o texto não diz que os sete homens "ficaram cheios" do Espírito Santo, mas que eles "eram" cheios do Espírito, conforme o verso 5. O ser cheio era um "estado" na vida deles, e não uma experiência momentânea. Era algo constante e experimentado interiormente.
Aqui cabe uma pergunta: Para cuidar das mesas das viúvas era necessário possuir tal vida? Perfeitamente! Se os homens escolhidos conhecessem apenas o "revestimento" passageiro, as dificuldades não seriam solucionadas; talvez até aumentassem. A situação era mui delicada, e uma divisão na igreja em Jerusalém poderia ter acontecido.
Esta situação nos mostra que a experiência do "revestimento" apenas, não é bastante para solucionar determinadas dificuldades. É necessário mais que "poder"; é preciso "vida"! Algo que flui de dentro para fora e não apenas exteriormente. O revestimento vem sobre nós muitas vezes, independentemente da nossa "real situação" diante do Senhor. Mas, o Plero não! É preciso que andemos no Espírito e recebamos o tratamento da Cruz. O "transbordamento" nos capacita a testemunhar "vivendo"!
3. ESTEVÃO
“Mas ele, cheio (plero) do Espírito Santo, fitando os olhos no céu, viu a glória de Deus e Jesus em pé à direita de Deus” (At. 7:55).
Estevão era um dos sete mencionados em Atos 6:3,5. Ele era um varão cheio do Espírito Santo (plero) mas também conhecia o revestimento de poder (6:8). Estevão realizava "prodígios e sinais entre o povo" (6:8), e falava com sabedoria tal que os da sinagoga não podiam resistí-lo (6:10). Seu testemunho é tão poderoso, que seus ouvintes “enfureciam-se em seus corações, e rangiam os dentes contra ele” (v. 54). Mas, Estevão era cheio de dentro para fora. A vida de Cristo podia fluir abundantemente dele. Seus olhos espirituais foram des- cerrados, para ver "os céus abertos e o Filho do homem em pé à direita de Deus" (v. 56).
Diante de tal declaração, a fúria dos seus oponentes chega ao seu ápice, e, lançando-se sobre ele, o enxotam para fora da cidade, apedrejando-o (vs. 57, 58). As roupas dos assassinos são colocadas aos pés de um certo mancebo de nome Saulo, que consentia na morte dele (vs. 58,60).
Observemos agora, a reação deste servo de Deus, que conhecia na prática, o "transbordamento" do Espírito. O Espírito Santo descreveu o ódio daquelas pessoas com a expressão "rangiam os dentes". Isto nós dá uma idéia da violência e do furor dos seus inimigos. Nas mãos de todos grandes pedras podem ser vistas, as quais serão atiradas sobre o corpo do servo do Senhor. Como Estevão reage? "Apedrejavam, pois, a Estevão que orando, dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito. E pondo-se de joelhos, clamou com grande voz: Senhor, não lhes imputes este pecado. Tendo dito isto, adormeceu" (At. 7:59,60).
Aqui podemos ver o coração de perdão do Senhor, manifestado na vida do Seu servo fiel. Quando o Senhor Jesus disse "Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem", o coração do ladrão foi tocado. Agora, outra vida será colhida para o Senhor: Saulo de Tarso. A oração de Estevão falou bem fundo no coração deste homem. Quando o Senhor Jesus está "formado" em nós (Cal. 4:19; Rom. 8:29), então podemos amar os nossos inimigos. Isto é, Ele mesmo os ama por nós!